sexta-feira, 1 de abril de 2016

Lava Jato prende Silvio Pereira e empresário de Santo André em investigação de empréstimo ao PT


Por Pedro Fonseca
(Reuters) - A operação Lava Jato prendeu nesta sexta-feira o ex-secretário do PT Silvio Pereira e o empresário de Santo André Ronan Maria Pinto em uma nova fase deflagrada com o objetivo de aprofundar investigações sobre um empréstimo fraudulento de 12 milhões de reais do Banco Schahin direcionado ao PT, em um caso que pode ter ligação com a morte do ex-prefeito petista Celso Daniel.
Ronan Pinto, já condenado por envolvimento em um esquema de pagamento de propinas na prefeitura de Santo André durante a gestão de Daniel, que foi morto em 2002, foi o destinatário final de quase metade dos 12 milhões de reais do empréstimo contraído junto ao banco, que foi pago com a contratação irregular do grupo Schahin para operar navio-sonda da Petrobras.
Os investigadores querem esclarecer o motivo do pagamento de quase 6 milhões de reais ao empresário, uma vez que Ronan Pinto não teria prestado qualquer serviço ao PT, de acordo com as investigações. A outra parte do empréstimo fraudulento foi destinada a saldar dívidas da campanha eleitoral do partido em Campinas, de acordo com a Lava Jato.
"A grande pergunta, temos algumas teses, mas nada comprovado, é qual a razão que lá no ano de 2004 ele recebeu 6 milhões de reais provenientes do Banco Schahin, com todos os estratagemas de lavagem de capitais para ocultar a origem do dinheiro", disse a jornalistas o procurador federal da força-tarefa da Lava Jato Diogo Castor de Mattos em entrevista coletiva em Curitiba, onde estão concentradas as investigações.
Questionado se o pagamento a Ronan Pinto poderia ter ligação com o caso Celso Daniel, inclusive se poderia ter sido para comprar o silêncio do empresário, o procurador disse apenas que todas as hipóteses de investigação estão abertas.
"Por enquanto esses fatos ainda estão sendo investigados, por ora não cabe levantar hipóteses, seriam meras conjecturas", afirmou. "Não é possível afirmar nenhuma hipótese. Todas as linhas continuam sendo investigadas, mas não há nada conclusivo."
Celso Daniel foi morto em janeiro de 2002, quando era prefeito de Santo André, após um sequestro. A polícia concluiu que ele foi morto em um crime comum, mas procuradores do MP paulista denunciaram que ele foi vítima de crime político por tentar interromper um esquema de corrupção em sua gestão envolvendo empresas de transporte.
SILVINHO E DELÚBIO
A operação desta sexta-feira, intitulada Carbono 14 em referência a procedimentos utilizados pela ciência para a datação de itens e a investigação de fatos antigos, também prendeu o ex-secretário do PT Silvio Pereira, apontado como arquiteto do esquema de lavagem do dinheiro proveniente do banco Schahin.
Segundo os investigadores, Silvinho, como é conhecido, teria articulado junto ao operador financeiro Marcos Valério e ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares toda a operação para camuflar os recursos.
Tanto Delúbio como Valério foram condenados no escândalo do mensalão. Já Silvinho, antes de ser julgado pelo envolvimento no mensalão fez um acordo para prestar serviços comunitários e não correr risco de ser preso. Nesta manhã, Delúbio foi levado pela PF para prestar depoimento.
Além da suposta lavagem de dinheiro, Silvinho também foi apontado pela investigação como destinatário de recursos sem justificativa da empreiteira OAS, uma das envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Lava Jato.
A Polícia Federal cumpriu oito mandados de busca e apreensão, dois mandados de prisão temporária e dois mandados de condução coercitiva em São Paulo, Carapicuíba, Osasco e Santo André.
Segundo as investigações o pecuarista José Carlos Bumlai, ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contraiu um empréstimo fraudulento junto ao Banco Schahin em outubro de 2004 no montante de 12 milhões de reais que tinha por finalidade a quitação de dívidas do PT e foi pago por intermédio da contratação fraudulenta da Schahin como operadora do navio-sonda Vitória 10.000, pela Petrobras, em 2009, ao custo de 1,6 bilhão de reais.
Bumlai, que foi preso pela Lava Jato em novembro de 2015 quando a operação revelou o esquema de fraude envolvendo o Schahin e a Petrobras, disse aos investigadores da Lava Jato que ao menos 6 milhões de reais do empréstimo fraudulento tiveram como destino o empresário Ronan Pinto, a pedido do PT.
Para viabilizar a transferência dos recursos ao destinatário final, foi montado um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o empresário, pessoas ligadas ao PT e operadores, de acordo com a investigação. Parte do dinheiro foi para o então acionista controlador do Jornal Diário do Grande ABC em 2004, por indicação de Pinto, que estava comprando o jornal.
Fone Reuters

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